Crítica: Bates Motel (Temporadas 1 a 4)

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ATENÇÃO: NÃO LEIA O POST SE VOCÊ AINDA NÃO ASSISTIU ÀS QUATRO TEMPORADAS DE BATES MOTEL. HÁ ALGUNS SPOILERS.

Prequels (ou histórias anteriores à outras já conhecidas) tornaram-se frequentes tanto no cinema quanto na televisão nos últimos anos. Realmente, a ideia de entender a trajetória de um personagem querido é extremamente atraente, especialmente aos curiosos, como eu, para saber a história de vida daqueles personagens. No entanto, uma prequel pode ser também cruel e frustrante, já que você se envolve com a história, torce pelos personagens, mas sabe que ela deve terminar de uma determinada maneira para fazer sentido com o que já conhecemos.

Better Call Saul, por exemplo, é um destes casos em que podemos torcer muito por Jimmy, mas já sabemos que ele se tornará o Saul de Breaking Bad. Outro exemplo é o tema deste texto: Bates Motel, que narra os acontecimentos anteriores ao filme Psicose, de 1960. Assisti às quatro temporadas da série recentemente e já estou ansiosa pela quinta e última, que será lançada em 2017.

Antes de continuar, já aviso que vou falar Psicose e que não pode ser considerado spoiler, pois o filme tem quase 60 anos e tem uma das cenas mais famosas do cinema… Minha sugestão é que assistam ao filme antes de assistirem à série.

Como devem lembrar, em Psicose, Norman Bates (Anthony Perkins) é o gerente do Bates Motel e assume a personalidade de sua mãe, assassinada por ele dez anos antes por sentir ciúmes dela, para matar outras pessoas.

Portanto, já no início de Bates Motel sabemos como a história terá que terminar para que o filme faça sentido. Agora, o que importa não é saber o que vai acontecer, mas sim como e por quê. A série se passa nos dias atuais e vemos a relação de Norman (o excelente Freddie Highmore), na adolescência, com sua mãe Norma (Vera Farmiga, também espetacular). É possível notar rapidamente que ambos são muito próximos e dependentes um do outro. Norma não gosta que Norman se interesse por qualquer menina e vice-versa.

Ao longo da primeira temporada descobrimos que Norman sofre “apagões” durante os quais adota outra personalidade e se torna extremamente violento. Por exemplo, descobrimos que ele foi o responsável pela morte do pai, mas ele não tem a menor lembrança do que ocorre nestes “apagões”. Norma sabe da verdade e tenta protegê-lo a qualquer custo. Aliás, esta a motivação de Norma durante todas as temporadas: proteger Norman e, enquanto faz isso, nega a si mesma que seu filho é mentalmente instável e perigoso.

Norma nega tanto que seu filho seja doente que chega a ser enervante! Ela é alertada por todos: seu outro filho Dylan (Max Thieriot), o xerife Alex Romero (Nestor Carbonell) e até seu irmão Caleb (Kenny Johnson) – um dos personagens mais dispensáveis da série, na minha opinião. Mesmo assim ela continua ignorando as evidências (apenas na 4a temporada ela se convence de que ele realmente precisa de ajuda profissional).

Norma e Norman são personagens fascinantes. Ela teve uma vida horrível, desde a infância, quando foi estuprada pelo irmão, até a vida adulta, quando sofria abusos de seu segundo marido. Não à toa ela chora em praticamente todos os episódios e seu amor por seu filho e sua vontade de evitar com que ele seja preso são tão genuínos que é impossível não ter pena dela e não torcer para que ela seja feliz. No entanto, como mencionei anteriormente, já sabemos o destino de Norma, de modo que torcer para ela torna-se triste. Mérito não só do roteiro, mas também de Vera Farmiga, que consegue captar todas as nuances e complexidades da personagem.

Ele, por sua vez, vai se transformando gradativamente no personagem que conhecemos no filme e várias cenas da série, inclusive, fazem referência direta a Psicose (a cena final da segunda temporada é o exemplo mais claro e mostra como Freddie Highmore é, de fato, um excelente ator e perfeito para o papel). Os olhares, a maneira de falar, a entonação da voz: tudo contribui para que deixamos de gostar dele e passarmos a ter muita raiva de Norman.

Há, claro, outras histórias paralelas para preencher os episódios. Uma delas é sobre o comércio de maconha que envolve Dylan mas que não despertou minimamente o meu interesse. Há também romances, e o meu casal favorito é Norma Bates e Alex Romero (antes de também torcer por eles, lembre-se do que eu expliquei sobre ser frustrante já saber o destino deles).

Gostei de praticamente tudo na série e, a meu ver, o fato de ter apenas 10 episódios por temporada faz com que a história flua melhor. O elenco é ótimo, com destaque aos protagonistas, como mencionei antes (não entendo como ainda não ganharam prêmios por suas interpretações); a trilha sonora também é perfeita, nos deixando cada vez mais tensos com o que está para acontecer.

Por fim, é possível fazer vários paralelos à peça Édipo Rei: assassinar o pai sem saber que o fazia e relação quase incestuosa com a mãe (na série há apenas insinuações, mas fica claro o desejo sexual de Norman pela mãe) são alguns exemplos.

Em resumo, Bates Motel foi uma grata surpresa e lamento não ter começado a acompanhá-la antes. Agora nos resta apenas esperar a quinta temporada que deverá ser ainda mais tensa e cheia de loucuras do Norman, sobretudo depois da sombria cena final da 4a temporada.

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