Crítica da Broadway: Hamilton

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Desde que me mudei para Nova York na metade de 2015 tinha uma vontade: assistir a Hamilton, o musical que até o Obama já tinha ido ver na Broadway. De lá para cá o musical só cresceu: com ingressos esgotados até janeiro de 2017, ganhou todos os prêmios possíveis, incluindo o Prêmio Pulitzer de 2016, sendo que o elenco até foi se apresentar na Casa Branca. Esta semana, para coroar a temporada, o musical foi indicado a 16 Prêmios Tony – um recorde. Sem mencionar, claro, o grande número de críticas positivas o descrevendo como uma “obra-prima” ou “a melhor coisa que eu já vi na vida”.

Finalmente, consegui vê-lo na semana passada e a pergunta que passava pela minha cabeça nos minutos anteriores era: será que é mesmo tudo isso?

Ao final de quase 3 horas de musical, cheguei à conclusão de que é realmente muito bom, mas não é a melhor coisa que já vi na vida… Antes de explicar o porquê, faz-se necessário contar brevemente o enredo: trata-se de um musical biográfico de Alexander Hamilton, um dos “founding fathers” dos EUA (termo usado para os responsáveis pela independência do país e autores da Constituição), baseado no livro de 2004 Alexander Hamilton, escrito pelo historiador Ron Chernow.

O ator e compositor Lin-Manuel Miranda gostou tanto do livro que decidiu adaptá-lo para o teatro de uma maneira inusitada: um musical de quase 3 horas cantado quase inteiramente em ritmo de hip-hop. Outro detalhe: o elenco é composto de minorias, de modo que vemos os americanos do século XVIII representados por negros e latino-americanos (o que é bom!). Surpreendentemente, porém, ninguém se importou com isso, já que o elenco é tão bom que não faz diferença se os atores são semelhantes ou não aos retratados.

A história começa em 1776, com Alexander Hamilton (Lin-Manuel Miranda) se juntando aos que queriam lutar contra o Reino Unido pela independência e termina em 1800, com a morte do protagonista. O foco é, portanto, sua contribuição para a formação do país, seja na luta armada, na defesa da Constituição, ou como Secretário do Tesouro, responsável pela criação do primeiro Banco nos EUA.

Como se vê, é um musical intimamente ligado à cultura e à história dos EUA (não à toa há o subtítulo de “An American Musical” – um musical americano). Portanto, só apreciará totalmente o musical quem preencher alguns requisitos, na minha opinião: (i) conhecer minimamente a história não só dos EUA, mas também da Europa naquela época, (ii) compreensão boa de inglês, já que (iii) as músicas são majoritariamente cantadas em rap ou hip-hop, ou seja, em velocidade alta, e (iv) gostar de musicais sem falas (como Os Miseráveis, por exemplo), ou estar aberto a tudo isso.

Superados todos estes itens, temos um musical excelente, desde a coreografia até o elenco, todos excelentes. Infelizmente, não consegui ver Jonathan Groff como o Rei George III, mas Rory O’Malley está sensacional como o monarca. Aliás, foi meu personagem favorito do espetáculo, mesmo ficando menos de 10 minutos no palco.

Também temos Aaron Burr (Leslie Odom, Jr.), amigo/inimigo de Hamilton, George Washington (Christopher Jackson), Thomas Jefferson (Daveed Diggs), James Madison (Okieriete Onaodowan), Eliza Schuyler Hamilton (Phillipa Soo), esposa de Hamilton e Angelica Schuyler Church (Renée Elise Goldsberry), irmã de Eliza.

É, de fato, original e diferente. Com certeza se destaca entre os demais musicais em cartaz na Broadway justamente por usar um ritmo musical inusitado para contar uma história igualmente inusitada e inesperada.

Em resumo, se você estiver em NY e conseguir ingressos a um preço decente, vale a pena assistir a este musical! Especialmente se estiver aberto às características mencionadas anteriormente.

Lin-Manuel Miranda depois de uma apresentação de "Hamilton".
Lin-Manuel Miranda depois de uma apresentação de “Hamilton”.

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