Crítica da Broadway: My Fair Lady

My Fair Lady Poster

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Ouvir a frase “Por que uma mulher não pode ser mais parecida com um homem?” durante My Fair Lady sempre faz a platéia rir – pelo menos essa foi minha experiência no passado. Após assistir ao espetáculo em 2018, no entanto, na nova produção em cartaz no Lincoln Center, senti que a recepção foi um pouco diferente.

É claro que essas palavras ainda são cantadas por um personagem conhecido por sua misoginia e arrogância, mas o público não está mais aceitando isso tão facilmente como antes – tanto que essa produção atual mudou o final que aparecia tanto na produção original da Broadway quanto no filme de 1964.

Baseado na peça Pigmalião, de George Bernard Shaw, My Fair Lady conta a jornada da jovem Eliza Doolittle (Lauren Ambrose), uma garota que vende flores em Londres no início do século 20, enquanto se torna aluna do professor Henry Higgins. (Harry Hadden-Paton, maravilhoso), que estuda fonética. Não se engane, ele não está dando aulas por ser caridoso, mas sim porque quer ganhar uma aposta feita pelo Coronel Pickering (Allan Corduner), um linguista que veio visitá-lo. O desafio é melhorar a fala e os modos de Eliza a tal ponto que ela poderia ser considerada uma dama no Baile da Embaixada.

Suas aulas são extenuantes e ele não perde nenhuma chance de humilhar Eliza. Ela fica tão brava que promete se vingar durante a música “Just You Wait”. Enquanto isso, ele se orgulha de ser “Um homem comum” (ou “um homem muito gentil, de temperamento moderado e bondoso que você nunca ouve reclamar”, etc.).

O pai da Eliza (Norbert Leo Butz) é igualmente detestável, disposto a “vendê-la” para o Prof. Higgins e passar a vida bebendo e conseguindo coisas que ele quer “Com um pouco de sorte”. Fica claro que o relacionamento pai-filha mal existe e provavelmente nunca existiu.

Provavelmente a personagem mais sã, depois do Coronel Pickering, é a Sra. Higgins (Diana Rigg), mãe de Henry. Ela sabe perfeitamente quão teimoso e insensível seu filho pode ser.

Por que, então, o público (inclusive eu) ama esse musical? Bem, a música é, claro, uma razão muito importante. Com letras de Alan Jay Lerner e música de Frederick Loewe, as canções são uma mistura de ingenuidade e sarcasmo, que vão desde baladas como “On the Street Where You Live” a solilóquios como “I’ve Grown Accustomed to Her Face”.

É também uma comédia. Os temas não são engraçados per se, mas os comportamentos e reações das personagens são. Por exemplo, quando Freddy (Jordan Donica) decide ficar indefinidamente em frente à casa de Eliza, cantando noite e dia, desejando que ela apareça – é impossível não achar isso divertido. A sequência do Ascot Gavotte também é hilária.

O cenário também contribui para o ritmo do show, com um set redondo que gira rapidamente, fazendo com que as mudanças de cômodos sejam muito rápidas.

Depois de todos os insultos, no entanto, há um entendimento, com o passar dos anos, de que Eliza e Henry Higgins deveriam terminar a história juntos, mesmo que a peça original de Shaw tenha um final diferente. Esta versão de 2018, porém, tem uma visão diferente do futuro de Eliza, talvez mais adequado aos eventos atuais de nossa sociedade. Nem todos gostam dessa mudança, como eu pude ver depois do musical: enquanto esperava o elenco sair, um espectador me disse que achou o final agridoce, já que ele sempre torce por um final feliz. Eu respondi “talvez este seja um final feliz para ela”. Ele sorriu e concordou com a cabeça.

Embora seja verdade que esta é uma peça de época, representando conceitos e pensamentos daquela tempo, também não podemos ficar presos ao passado. Então talvez essa mudança possa ser boa, e isso não diminui a qualidade deste musical.



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