Crítica: A Garota no Trem (2016)

Rachel tem uma imaginação fértil: ela olha através da janela do trem e observa a vida de outras pessoas. Ela não apenas os vê, mas também cria histórias sobre eles e imagina como suas vidas são. Ela é a garota no trem a quem o título do filme se refere. Isso, por si só, não seria uma história tão interessante, já que é comum olhar para os lugares por onde você passa todos os dias em seu trajeto. O que faz A Garota no Trem diferente, entretanto, é como Rachel (Emily Blunt) passa do limite entre apenas olhar a vida alheia e ficar obcecada com o que vê.

Ela começa a ficar obcecada por um casal que, na sua imaginação, tem o casamento perfeito, e que vive a algumas casas de distância de onde ela morava com seu ex-marido Tom (Justin Theroux). Um dia, porém, ela vê a mulher que admira – cujo nome é Megan (Haley Bennett) – beijando outro homem. Isso é suficiente para desencadear sua raiva e faz com que ela deixe o trem para ir e falar com esta mulher, que desaparece no mesmo dia. Rachel, então, tenta ajudar o marido de Megan (Luke Evans) a descobrir o que aconteceu. Ah, e Rachel é alcoólatra, o que faz com que ela seja uma narradora “não confiável”.

Como fã do livro no qual o filme é baseado, eu estava realmente ansiosa para vê-lo e não me decepcionei: o filme é muito fiel ao romance, até mesmo na forma de como é narrado (as três personagens principais se revezam para contar a história sob seus pontos de vista). Comparações com Garota Exemplar (Gone Girl, 2014) são inevitáveis, mas A Garota no Trem vale por si só.

O elenco é muito bom, especialmente Emily Blunt, que é capaz de interpretar uma alcoólatra sem retratar a imagem clichê que costumamos ver em filmes. Além disso, ela é capaz também de manter Rachel não confiável para os espectadores, que era o ponto principal: ela é culpada ou inocente? Será que ela não tem nada a ver com o desaparecimento de Megan? Um recurso que também ajudou o desempenho de Emily Blunt foi a maquiagem – ou a ausência dela. Podemos ver um tom de pele diferente, bem como olheiras profundas e cabelo bagunçado.

O que me atraiu mais a este filme é precisamente o fato de que ele explora a nossa curiosidade sobre a vida de outras pessoas. Não é a primeira vez que vemos isso em filmes (Janela Indiscreta, de 1954, é um grande exemplo deste voyeurismo), e provavelmente não será a última. Especialmente no mundo de hoje, onde as redes sociais nos deixam cada vez mais interessados nas vidas de outras pessoas – independentemente se o que imaginamos é verdade ou não. O caso de Rachel, claro, tornou-se uma obsessão e ela era basicamente se tornou uma perseguidora ao invés de uma mera observadora.

Resumindo, é um filme muito interessante e intrigante, em que você continua tentando descobrir o que realmente aconteceu na noite em que Megan desapareceu, mas não confia totalmente a versão da Rachel. A trilha sonora de Danny Elfman, um dos meus compositores favoritos, completa o tom sombrio do filme e o torna ainda mais emocionante.

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