Crítica: La La Land – Cantando Estações (2016)

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Números obtidos do IMDb e do Rotten Tomatoes em 11.2.2017.

Houve uma época em que musical era o gênero mais popular no cinema norte-americano. Falava-se sobre tudo através de musicais: desde a 2a Guerra Mundial (A Noviça Rebelde, Cabaret) até versões de histórias inspiradas na obra de William Shakespeare (Amor, Sublime Amor). No entanto, com o passar do tempo, os musicais perderam importância e espaço na indústria cinematográfica, sendo que muitos dos espectadores mais novos têm grande preconceito com o gênero.

Em razão disso, é raro ver um musical completamente original no cinema atualmente. Claro que há exceções, como por exemplo a “trilogia” do diretor John Carney – Apenas Uma Vez, Mesmo Se Nada Der Certo e Sing Street –, mas também é verdade que a grande maioria dos musicais nas últimas duas décadas têm sido adaptações de produções da Broadway. Vale lembrar que Chicago, também originário da Broadway, foi o primeiro (e, por ora, único) musical a ganhar o Oscar de melhor filme em 2003 desde Oliver! em 1969.

E, então, La La Land: Cantando Estações é lançado e conquista não apenas o grande público, mas também impressionantes 14 indicações ao Oscar! O que há de tão especial e diferente neste filme, que conseguiu quebrar a barreira há tanto tempo enfrentada por musicais?

O maior trunfo, na minha opinião, vem do diretor e roteirista Damien Chazelle. Também responsável pela direção de Whiplash: Em Busca da Perfeição, Chazelle consegue trazer o gênero musical definitivamente ao século XXI enquanto faz uma belíssima homenagem a inúmeros musicais clássicos do cinema.

Talvez a história, relativamente simples, também tenha contribuído para gerar empatia com o público. No filme, conhecemos Mia (Emma Stone), uma aspirante à atriz que trabalha no café dos estúdios da Warner, e Sebastian (Ryan Gosling), um músico de jazz que sonha em abrir seu próprio restaurante dedicado a esse gênero musical. Eles se veem duas vezes (uma briga no trânsito e um esbarrão em um restaurante) antes de se conhecerem de verdade. No entanto, quando este encontro acontece, o público já está torcendo por eles: já foi mostrado como a Mia sofre em audições e como Sebastian acumula dívidas. Juntos, portanto, formam o par perfeito: dois sonhadores.

Mérito, portanto, do roteiro de Damien Chazelle, que consegue narrar um relacionamento romântico tão comum no cinema de uma maneira original: a cena em que os dois começam a se apaixonar é um ótimo exemplo. Enquanto dançam e o sol se põe ao fundo, cantam frases como “não temos a menor chance” e “você não é o meu tipo”. Ao final da cena, porém, vê-se que a química entre os dois é inegável.

Além do romance mencionado anteriormente, La La Land: Cantando Estações é também uma comédia agradabilíssima. Emma Stone e Ryan Gosling demonstram total e completo entrosamento nesta que é sua terceira parceria (Amor a Toda Prova e Caça aos Gângsteres). Isto dá leveza à atuação de ambos e proporciona momentos extremamente divertidos, já que os dois atores são capazes de expressões faciais que, por si só, arrancam risos da plateia.

É verdade que eles não são os melhores cantores de Hollywood, mas não é este o intuito do filme. A ideia é justamente mostrar pessoas comuns em busca de sonhos, e não criar oportunidades vocais para os atores.

Além do casal principal, o filme também mostra outras pessoas que, como eles, largaram tudo e se mudaram para Los Angeles em busca de algo. Logo na primeira cena do filme, rodada em locação durante os finais de semana, vemos um congestionamento se transformar em uma verdadeira pista de dança. Cada um sai de seu carro e conta à plateia sua história de vida, com muitos “nãos” e portas fechadas, mas sempre persistindo e vivendo “outro dia de sol”, como diz a música.

Esta primeira cena é, inclusive, um ótimo exemplo novamente da direção de Damien Chazelle, já que passa a impressão de ter sido filmada sem cortes. Nela, também, já começa-se a ver o trabalho da figurinista Mary Zophres, que utiliza muito as mais cores durante o filme, e da coreógrafa Mandy Moore.

As cores, mais uma vez, chamam muito a atenção durante praticamente todo o filme. Durante a canção “Someone in the crowd”, por exemplo, Mia e suas 3 amigas dançam pelas ruas de Los Angeles sendo que cada uma usa um vestido de uma cor diferente (referência também a uma cena do musical Charity, Meu Amor). Os vestidos que Mia usa nas várias cenas de dança são sempre monocromáticos, o que realça seus movimentos. Não surpreende, portanto, que uma das indicações ao Oscar seja justamente neste categoria.

Além disso, os cenários, de responsabilidade de Sandy Reynolds-Wasco, são igualmente coloridos, com cores fortes que transmitem a sensação de que os personagens realmente estão vivendo em um sonho.

O mais importante, porém, é a música. Todas as canções são potenciais “chicletes” e se encaixam de maneira harmônica nas cenas. Não por acaso que duas delas foram indicadas ao Oscar de canção original: “City of Stars” e “Audition (The Fools Who Dream)”, ambas compostas por Benj Pasek, Justin Paul e Justin Hurwitz. Este último também está indicado na categoria de trilha sonora original.

“City of Stars” é uma daquelas canções que facilmente podem se tornar clássicos do cinema e é praticamente impossível sair da sessão sem ficar com a melodia na cabeça. “Audition (The Fools Who Dream)”, por sua vez, é o clímax do filme: nesta cena vemos Mia se entregar completamente e tentar, pela última vez, a seguir em busca de seu grande sonho de se tornar atriz profissional. E é nesta cena em que Emma Stone mais brilha e mostra a que veio.

Como o subtítulo da música diz, ela é dedicada aos “tolos que sonham”, assim como todo o filme. E o trabalho mais importante de La La Land, na verdade, é mostrar justamente que nem sempre pode-se ter todos os sonhos: escolhas devem ser feitas e sempre acaba-se abrindo mão de algo para atingir seus objetivos.

La La Land: Cantando Estações é, portanto, muito mais empolgante do que o título em português sugere. Basta lembrar dos dois significados do título em inglês: (1) apelido da cidade de Los Angeles, onde se passa a história e (2) situação em que a pessoa “sonha acordada”, tal como ocorre em vários momentos no filme. Aliás, o subtítulo “Cantando Estações” perde um pouco o sentido justamente porque as 4 estações em Los Angeles são iguais (sempre calor e sol), motivo pelo qual o próprio diretor brinca com isso e inicia o filme com a palavra “Inverno” em uma cena em que pessoas dançam com roupas leves em um dia ensolarado.

Por fim, pode-se enumerar diversas passagens em que La La Land faz homenagens e referências aos musicais clássicos, mas considerá-lo apenas um “filme homenagem” seria desmerecer o belíssimo trabalho que foi feito. Merece ser visto, revisto e, quem sabe, ajudará a trazer os musicais de volta para onde nunca deveriam ter saído: categoria de melhor filme do ano.

 

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