Crítica: Tully (2018)

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8/1075/1007,4/1087%74%
Números obtidos do IMDb e do Rotten Tomatoes em 27.5.2018.

“Mãe, o que aconteceu com seu corpo?”. Esta é a pergunta que Sarah (Lia Frankland) faz a sua mãe Marlo (Charlize Theron) ao vê-la de sutiã na cozinha. Marlo acabou de ter seu terceiro filho e teve um dia cansativo, já que passa a maior parte do tempo cuidando da filha recém-nascida. Além disso, seu filho do meio está com dificuldades na escola (apesar de nunca ser diagnosticado, temos a impressão de que ele está dentro do espectro de autismo).

Sem ajuda do marido (Ron Livingston) e se sentindo esgotada, Marlo aceita o “presente” de seu irmão mais velho (Mark Duplass): uma babá que passaria as noites na casa cuidando da bebê para que Marlo pudesse dormir melhor. Desesperada, Marlo pega o número da babá e, à noite, surge Tully (Mackenzie Davis). Jovem e animada, Tully promete à Marlo que está ali para cuidar tanto da bebê quanto da mãe.

Tully e Marlo têm uma conexão instantânea e Marlo “volta a enxergar cores”, como ela própria descreve ao marido. Ele, por sua vez, nem se deu ao trabalho de conhecer a babá: ela chega quando ele já está no quarto jogando videogame e vai embora antes de ele levantar.

A total ausência de preocupação que ele tem com Marlo é extremamente desconfortável, e talvez por isso Marlo se sinta tão bem com Tully: pela primeira vez em muito tempo há alguém que se importa com ela.

Tully é a terceira colaboração entre o diretor Jason Reitman e a roteirista Diablo Cody depois de Juno e Jovens Adultos, e é o melhor dos três, na minha opinião.

Charlize Theron está fenomenal no papel, conseguindo transmitir com perfeição o cansaço e os desafios decorrentes de ser mãe: anda com passo arrastado, cabelo desajeitado e praticamente de pijama, como se fizesse as atividades diárias no piloto automático. Ela também ganhou peso para dar mais realismo à ideia de que sua personagem acabou de dar à luz.

Mackenzie Davis também tem um desempenho ótimo, transmitindo o entusiasmo de quem ainda é jovem e está aproveitando a vida. Há quem compare Tully à Mary Poppins, já que ambas chegam para cuidar não apenas das crianças, mas da família como um todo. Mas Tully não voa ou canta, tampouco é “praticamente perfeita em quase tudo”. Ela faz algo mais simples, mas mais poderoso: presta atenção em Marlo e a escuta.

Sem dar spoilers, é possível dizer que Tully mostra a depressão pós-parto de uma maneira que não é vista frequentemente em filmes. A inspiração veio da experiência própria de Diablo Cody, que também sentiu que este assunto não era explorado de maneira adequada no cinema.

O final do filme, inclusive, é um convite à reflexão de como as mulheres são tratadas logo depois de darem à luz. Muita atenção é dada ao recém-nascido e se assume que a mãe está apenas cansada, sem que haja algo mais profundo acontecendo. Por este motivo, filmes como estes deveriam ser feitos mais frequentemente, já que há muitas mulheres que ainda sofrem em silêncio enquanto tentam vencer este grande desafio que é ser mãe.



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