Crítica: Distúrbio (2018)

Poster Unsane

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8/1063/1006,8/1079%58%
Números obtidos do IMDb e do Rotten Tomatoes em 27.3.2018.

Stalking, sem tradução exata para o português, refere-se ao ato de perseguição de maneira assediadora, coagindo a vítima de tal maneira que ela é obrigada a alterar sua rotina ou procurar a polícia para fugir do perseguidor. 

Na maioria das vezes, porém, as vítimas de stalking não são levadas tão a sério quanto deveriam, com muitas pessoas considerando suas alegações como “exageros” ou puramente “invenções”. Esta é a premissa de Distúrbio, o mais novo filme de Steven Soderbergh.

Filmado inteiramente com um iPhone, Distúrbio conta a história de Sawyer Valentini (Claire Foy), uma jovem que se mudou de Boston para uma cidade da Pennsylvania para fugir de um stalker. Ela conversa por telefone com a mãe (Amy Irving) durante o almoço, tentando convencê-la de que sua vida está ótima, mas ela claramente continua sofrendo em silêncio.

Sawyer procura ajuda psicológica e, ao confessar à terapeuta de que já cogitou tirar a própria vida, acaba se submetendo, sem saber, a um período de 24 horas de observação em uma clínica. No entanto, a clínica não tem interesse em liberá-la enquanto seu seguro de saúde cobrir sua internação. 

Na clínica, Sawyer reconhece um dos enfermeiros como seu stalker, David Strine (Joshua Leonard). Apesar de seus esforços de contar a todos quem ele é, ninguém acredita em sua história e, cada vez mais, ela é vista como louca. 

A construção da narrativa é muito inteligente ao também fazer o espectador duvidar de Sawyer, com vários indícios de que ela teria, de fato, mania de perseguição. O diretor revela na metade do filme se ela é ou não insana e ele se torna um pouco mais violento e perturbador do que se esperaria.

Unsane tem como ponto principal a discussão sobre como a sociedade trata vítimas de stalking, desmerecendo suas alegações e forçando-as a mudar suas completamente suas rotinas. Há uma cena de flashback em que vemos um policial (interpretado por um convidado surpresa!) aconselhando Swayer a instalar sistema de segurança em casa, alterar completamente sua rotina, evitar ser fotografada, etc., sugerindo também que ela lesse o livro “The Gift of Fear” de Gavin de Becker. 

Todas essas medidas tomadas por Sawyer mostram algo que, infelizmente, acontece com frequência: a vítima é obrigada a mudar, e não o assediador.

O filme também critica o sistema de seguro de saúde nos EUA, mostrando que as clínicas se preocupam mais com o dinheiro do seguro do que com o bem-estar dos pacientes.

Claire Foy mostra, mais uma vez, que é uma excelente atriz, capaz de interpretar alguém sofrendo extrema violência mental. O fato de ter sido filmado em um iPhone destaca sua performance, já que a câmera está muito próxima dela e alcança ângulos que mostram como Sawyer está emocionalmente abalada.

Distúrbio não é um filme perfeito, claro. Tem, inclusive, cenas muito perturbadoras que fazem o espectador desviar o olhar da tela. No entanto, é um retrato necessário do que muitas mulheres passam, especialmente nesta época em que o movimento contra o assédio sexual está nos noticiários diariamente.


One thought on “Crítica: Distúrbio (2018)

  1. Após nos ter oferecido uma série de filmes medianos, finalmente Steven Soderbergh presenteia-nos com um filme de muito bom nível, que mistura os géneros mistério, suspense e terror. Desde o início até ao final que a “trama” deste “Unsane” nos envolve e nos intriga. O filme não é original, pois já vimos no cinema algumas histórias mais ou menos similares a esta, a narrativa não é perfeita, pois há um ou outro “furo” no argumento e uma ou outra situação um pouco inverosímil, mas nada de grave nem muito relevante. O filme está bem construído, um pouco à maneira dos filmes de suspense e terror que se faziam “nos bons tempos” e possuí um excelente ritmo no desenvolvimento da ação e da intriga, que nos “agarra” e nos mantém na dúvida até ao final. A atriz Claire Foy está bem convincente, neste exigente papel. Até que enfim Soderbergh se deixou dos “oceans” e de outros filmes aborrecidos de assaltos, aclamados por alguns, mas que penso nada trouxeram de novo. “Mergulhando” aqui num outro género, Soderbergh sai-se extremamente bem. O seu melhor filme desde “Erin Brockovich”. Só era escusado aparecer Matt Damon. Já todos sabemos que Soderbergh e Damon devem ser grandes amigos, por isso não é preciso Damon aparecer em todos os filmes do realizador, por breves minutos ou instantes que seja.

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